Nem a idade, nem o cansaço, nem o tempo longe da sala de aula foram obstáculos. Aos 73 ou aos 31 anos, com filhos no colo ou o uniforme de trabalho ainda no corpo, 46 estudantes de Cáceres decidiram que ainda era tempo de aprender. E conseguiram. Na última terça-feira (17), eles concluíram o ensino fundamental e médio pela Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Sesi Mato Grosso — e, com isso, abriram espaço para novos sonhos, profissões e possibilidades que antes pareciam distantes.

A cerimônia marcou uma conquista coletiva — com professores, gestores e familiares dividindo o orgulho por cada aluno que venceu desafios, conciliou trabalho, filhos, cansaço e, acima de tudo, não desistiu da educação.

Entre os formandos, a dona de casa Casimira Adriana Messia de Arruda, de 73 anos, emocionou a todos com sua história. Depois de interromper os estudos ainda criança por conta da separação dos pais, ela se dedicou à família e à criação dos três filhos. A vida adulta foi cheia de responsabilidades, mas um sentimento persistiu: o arrependimento por não ter concluído os estudos.

A decisão de voltar à sala de aula veio como forma de realizar um sonho pessoal e buscar a tão desejada aposentadoria. “Voltar a estudar foi uma das maiores alegrias da minha vida”, contou Casimira. Ela fez todo o curso de forma presencial e se sentiu acolhida desde o primeiro dia. “O carinho das professoras e do professor Marcelo me motivou demais. A gente sente que é possível, mesmo com idade”, disse, com orgulho.

Um casal em busca de novos horizontes

A caminhada de Jesus Ferreira Araújo Lopes, de 31 anos, também revela o impacto transformador da EJA. O orador da turma, que atua como vigilante, teve que abandonar os estudos na adolescência após a morte do pai, assumindo responsabilidades financeiras para ajudar a família. Anos depois, reencontrou na educação o caminho para novos sonhos: entrar na carreira policial e, quem sabe, cursar Direito.

“Quando conheci a metodologia do Sesi, percebi que respeitava minha história, minha rotina e o que já aprendi na vida. Isso fez toda a diferença”, afirmou.

Jesus divide a vida com Crisley Pamela, 24 anos, que também concluiu os estudos pelo Sesi dois anos antes e hoje cursa Pedagogia na Unemat. Pais de uma criança pequena, o casal se apoia mutuamente na construção de um futuro melhor. “A EJA foi um recomeço para nós dois. Agora temos planos, metas, esperança”, completou Jesus.

Metodologia que acolhe e impulsiona

O modelo educacional da EJA do Sesi MT se destaca por valorizar o que os alunos já sabem. A metodologia de Reconhecimento de Saberes considera as vivências pessoais e profissionais como parte do processo de aprendizagem. Além disso, o formato flexível — com até 80% das aulas em EAD — permite que adultos com rotinas intensas possam estudar sem renunciar ao trabalho ou da família.

“O aluno adulto tem uma bagagem única. Nosso papel é reconhecer isso, criar pontes e oferecer um ensino que faça sentido para ele”, explica o superintendente regional do Sesi MT, Alexandre Serafim.

Entre a solda e o cuidado com o próximo

Outro exemplo é o de Dhioni Charles, de 40 anos, soldador, que também precisou abandonar a escola após a perda do pai. Depois de anos longe das salas de aula, decidiu retomar os estudos ao ser incentivado por amigos. Seu objetivo: tornar-se enfermeiro, motivado pelo desejo de cuidar de pessoas.

“O Sesi me deu uma chance real. Os professores são incríveis, a estrutura ajuda muito. Estou feliz em concluir mais essa etapa”, disse Dhioni, que também é pai e sonha com novas oportunidades.

Celebração coletiva e impacto social

Durante a cerimônia, professores foram homenageados pela instituição e alunos e receberam aplausos de pé. Familiares se emocionaram com os discursos e conquistas. Para muitos, era a primeira vez assistindo a um ente querido receber um diploma.

“O que vimos aqui hoje é o poder da educação de verdade. Cada formando representa uma história de luta e superação”, afirmou Serafim. “Investir na EJA é investir em toda a comunidade. Mais do que um certificado, a formatura representa a abertura de novos caminhos. Seja para entrar no mercado de trabalho, realizar o sonho de uma graduação, ou simplesmente provar que ainda é tempo de recomeçar, cada história celebrada em Cáceres mostra que a educação é, antes de tudo, um ato de coragem”, finalizou.

O evento também contou com a presença de representantes do Sesi e da indústria regional. Estiveram presentes Adriana Terçariol, gerente do Sesi Cuiabá, e Luciana Lima, coordenadora regional do Sesi MT, além de lideranças de três importantes setores produtivos do estado. Representando os sindicatos da indústria, participaram Davi Carvalho, representante do Sindimec-Sudoeste (setores metalomecânico, metalúrgico e elétrico), Marco Aurélio Ribeiro (Sinduscon-Sudoeste – construção civil) e Celso Dias (SIA Cáceres – setor de alimentação).

Texto e fotos: Viviane Saggin