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Dislexia: estudante retoma os estudos aos 66 anos e diz que conquistou o diploma graças ao método da EJA

09/11/2023 - 11h07
Eja
Sesi está com as inscrições abertas para a Educação de
Jovens e Adultos (EJA) em 4 cidades. Foto: divulgação

A aposentada Maria da Penha Campos, de 66 anos, preenche, desde março deste ano, todos os formulários de dados pessoais com a seguinte informação: ensino médio completo. A conclusão dos estudos foi um marco na vida da estudante, que enfrentou preconceitos e humilhações dentro do ambiente escolar porque não conseguia passar nas provas escritas. Um problema de aprendizado identificado apenas aos 49 anos de idade, quando ela conseguiu nominá-lo, por meio de diagnóstico, dislexia.

O retorno ao ensino formal veio com a matrícula na Educação de Jovens e Adultos (EJA), que é oferecida pelo Serviço Social da Indústria (Sesi). “Lá, eles usam um método moderno. Eu percebi que grande parte dos conteúdos eu já sabia porque aprendi na prática, com minhas experiências de vida. Mesmo sabendo do meu diagnóstico, não fui tratada com nenhum privilégio pelos professores. Eles professores apenas me deram silêncio, respeito e um pouco a mais de tempo para realizar a prova”, afirmou a aluna.

Lembrando da infância, Maria conta que apanhava e era chamada de burra e preguiçosa. Naquela época, os professores não tinham acesso as mesmas informações que hoje, então não conseguiam nem suspeitar o que acontecia. A dificuldade para ler foi o primeiro obstáculo na vida dela e foi vencido aos 14 anos, após uma professora aplicar uma forma diferente de ensinar. “Naquela época não era pessoa com necessidades especiais ou com deficiência. A gente falava deficiente. E a professora me ensinou a ler com uma técnica que ensinava os deficientes e deu certo”, recordou.

O entendimento das letras foi um começo, mas não resolveu totalmente o problema. Maria era obediente, copiava toda matéria do quadro, fazia a tarefa, mas não conseguia ter o mesmo sucesso na prova. “Eu tinha estudado e estava com o assunto na cabeça. Mas, não conseguia escrever isso na prova. A escrita saia embaralhada, com erros de português e muitas vezes sem sentido. Eu me sentia pressionada e com medo”, relatou.

Sendo assim, depois de concluir o ensino fundamental, Maria seguiu para o campo de trabalho e abandonou a escola. Neste período, trabalhou em diversas áreas, fez cursos técnicos e teve posições de destaque. A primeira suspeita de dislexia veio de uma chefe que verificava os relatórios dela e não entendia como a colaboradora tinha tanta informação, dava palestras e se atrapalhava na escrita.

“Mas, caiu a minha ficha o dia que eu vi uma reportagem na TV. A repórter falou com uma pessoa que tinha dislexia e eu me vi em todas as situações relatadas. Depois, eu procurei um médico neurologista que era meu amigo. Ele fez exames de audição e de várias outras coisas e achou o diagnóstico. Nós choramos juntos com o resultado”, afirmou.

O caminho do sucesso

Maria
Maria comemorou a vitória com os professores do Sesi
que atuam na EJA. Foto: divulgação

Para Maria, não ter o diploma de conclusão do ensino médio sempre foi uma vergonha. Ela vem de uma família com 4 professores e todos os irmãos dela conseguiram se formar.  A estudante conta com orgulho que uma das irmãs dela é professora universitária aposentada e está fazendo pós-doutorado no exterior.

Quando ela procurou o Sesi para fazer a matrícula, foi informada da metodologia e disse que logo percebeu o que a afastou da escola. A primeira coisa foi o barulho, avalia a estudante. Ela conta que descobriu que não consegue se concentrar com pressão e barulho. Então, aquela gritaria dos alunos falando ao mesmo tempo que os professores a prejudicava. “Aqui não temos este problema porque a nossa classe é formada de adultos e todos vão com objetivo de aprender”, argumenta.

Outra coisa que prejudica o aprendizado de Maria é a cobrança. Ela disse que na vida profissional sempre foi reconhecida pelos colegas como uma pessoa comprometida com as tarefas e via esta característica se esfacelar na escola porque conta da cobrança em relação ao resultado da prova. “Na EJA, eles consideram o nosso tempo de aprendizagem e as matérias têm uma forma diferente de serem apresentadas. Falam de assuntos atuais e do dia a dia. Os professores têm muita paciência para explicar e como tive um pouco mais de tempo, consegui concluir quase todas as questões da prova. Comecei o curso em novembro de 2022 e em fevereiro de 2023 estava com o diploma”.

A professora da EJA, Clariana Rosa da Silva Ferreira, conta que, quando chegou, Maria logo mostrou que tinha uma boa expressão oral, porém apresentava um certo temor de usar o computador e fazer as atividades de leitura e escrita. Sendo assim, os professores começaram o trabalho pelo letramento digital, ou seja, a aproximação da estudante com o computador e a plataforma de ensino.

No caso da metodologia aplicada pelo Sesi, 80% das aulas são via plataforma e 20% presencial, com o atendimento individualizado. Sendo assim, Clariana explica que existe uma atenção especial para as pessoas que não conseguem manusear os equipamentos eletrônicos, já que o domínio é essencial para a conclusão do curso e também a vida dentro de um mundo com alto grau de digitalização.

Para a professora, outro diferencial da metodologia é o processo de reconhecimento de saberes, que identifica o que o estudante aprendeu durante a vida e associa a grade curricular do ensino médio e fundamental. Esse trabalho de associação é testado nas provas.

Maria, por exemplo, conseguiu eliminar todas as disciplinas das áreas de humanas na primeira etapa, deixando para segunda apenas algumas unidades de Ciências da Natureza.

Dia Nacional de Atenção à Dislexia

O Dia Nacional de Atenção à Dislexia é comemorado em 16 de novembro e marca um período em que se fortalecem as ações de conscientização sobre o diagnóstico e tratamento precoce do transtorno. Vale lembrar que a ausência de conhecimento sobre o assunto levou muitas pessoas com dislexia a serem tratadas como preguiçosa, indisciplinada ou detentora de déficit intelectual, como aconteceu com Maria da Penha Campos. Por isso, é essencial que todos entendam sobre o transtorno e ofereçam suporte, uma vez que identificar os sinais precocemente é fundamental para uma intervenção adequada e eficaz.

A dislexia é um transtorno de aprendizagem que engloba dificuldades na leitura e na escrita por um déficit no processamento fonológico e que leva a problemas na alfabetização.

Inscrições abertas

As inscrições para a Educação de Jovens e Adultos está aberta nos quatro polos do Sesi em Mato Grosso tanto para o ensino fundamental como para o médio. Os interessados devem ter mais de 18 anos e procurar uma das unidades da entidade nas cidades de Rondonópolis, Cáceres, Várzea Grande e Sinop.

O cronograma das aulas é híbrido, com 80% da carga horária on line e 20% presencial. Os encontros presenciais serão realizados uma vez por semana (conforme calendário do curso). Nos quatro dias da semana em que o aluno não está no Sesi, ele pode acessar a plataforma de estudos de onde quiser e no melhor horário.

A metodologia usada na Eja é do reconhecimento de saberes que acelera o tempo de estudo com base nos conhecimentos prévios de cada aluno e tem um currículo organizado por competências.

Reconhecido pelo Conselho Nacional de Educação, o método tem entre as grandes inovações a identificação, validação e certificação das competências e habilidades desenvolvidas nas experiências de vida e de trabalho dos alunos.

Documentos necessários - Para realizar a matrícula na EJA, os trabalhadores da indústria e dependentes precisam apresentar os seguintes documentos nas unidades do Sesi: cópia Carteira de Identidade e da Carteira de Trabalho (página da foto, qualificação civil e contrato de trabalho), além do Histórico Escolar original. Para dependentes, é necessário apresentar também a Certidão de Nascimento ou Casamento.

Os demais interessados precisam apresentar a cópia da Carteira de Identidade, CPF, cópia do comprovante de residência e Histórico Escolar Original.

Mais informações podem ser obtidas pelos telefones das unidades do Sesi:

  • Várzea Grande: (65) 3685-2311 / (65) 2128-2056 (WhatsApp)
  • Rondonópolis: (66) 3410-2440
  • Sinop: (66) 3531-3611 / (66) 99646-2021 (WhatsApp)
  • Cáceres: (65) 3223-4033

Texto: Caroline Rodrigues

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